domingo, 1 de abril de 2012

Conversas

Conversas
Tenho saudade das conversas com meu pai.  Homem inteligente, mas, infelizmente ausente. Não sei se por querer ou, dever. Era ausente.
Por isso, dava tanto valor as pouquíssimas prosas que tivemos ao longo de sua vida. Falava comigo sobre tudo, principalmente política.  Ainda bem pequena, já entendia o significado da foice e do martelo; do exílio político e das forças subversivas.
Aliás, quão perigosas eram nossas conversas. Talvez por isso, entre meus irmãos, eu era a única que gostava de ouvir aquelas histórias que envolviam tanto medo. Já era eu subversiva, e nem sabia.
Recomendações para guardar segredo, eram desnecessárias. Fazia questão de manter aquela linha de comunicação restrita, um momento só nosso. Ninguém precisava saber.
Peguei gosto pela leitura com pequenos textos, escritos na clandestinidade, por pessoas que eu nem conhecia.  Mas, se meu herói dizia que era importante, eu lia.
Esses pequenos pedaços de papel, saíam de seus bolsos, em bolotas, amassados e às vezes, até rasgados, aí fazíamos um ritual completo, colocando lado a lado cada pedacinho. Não perdíamos nem uma vírgula, era importante demais para deixar que um pontinho sequer se perdesse, como perdida eu ficava, quando ele não estava.
Passavam-se meses, até que voltasse. Na minha ingenuidade, essa ausência significava que meu querido pai, estava em alguma missão secreta. Dentro de mim os sentimentos eram um misto de medo e orgulho; que se transformavam na mais absoluta felicidade quando via aqueles olhos perfeitamente azuis, me trazendo novamente o mundo.
E assim foi por minha infância e parte da adolescência. Até hoje, não sei ao certo, se realmente ele era um ativista, mas, com todo meu coração sei que foi com este homem, com este cidadão brasileiro e acima de tudo pai, que tive o primeiro entendimento, de que a comunicação forma, transforma, cria, destrói, constrói uma vida, um homem, com poucas palavras.
No meu caso, especificamente neste caso, formou, transformou, criou e edificou valores, caráter e sentimentos, que levo comigo e passo de mim a quem quiser ouvir.
Ficou a lembrança deliciosa da voz firme, porém, doce de meu pai, inspirando a vontade de fazer da palavra, um objeto de amor!
Edina Cristina Algarve Garcia 
RA 3732684805
Pedagogia – 1º ano
Grupo de Escritores da Uniabc

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